domingo, 18 de janeiro de 2009

Penso, logo, vou existindo...

Há por aí mais desassossegos do que se pensa...Pensar cansa...é difícil voltar ao pensamento linear que tanto conforto/soluções poderia trazer...Entretanto vai-se começando a cair nas "paixões violentas por coisa nenhuma"...tentando dar imagens concretas para conseguir "satisfazer as pretensões ditatoriais" do coração...Mas ele não fica satisfeito com pouco...e até percebermos e aceitarmos que, como dizia o pensador, só nos amamos a nós mesmos...não conseguiremos voltar ao linear...só que há casos /pessoas...em que é muito para ficar cá dentro...e, de vez em quando...temos de criar imagens...para não "explodir"...para não "cair"...só porque somos fracos...só isso...Este post/poema é dedicado a esse tipo de pessoas...


"O que há em mim é sobretudo cansaço -

Nem disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada -
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essa e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz cansaço,
Esse cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque amo o infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E ah! com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..."

Álvaro de Campos

Sem comentários: